Coloco aqui minhas reflexões, minhas poesias, poesia de terceiros, textos, algumas brincadeiras e muita paz de espírito.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Visita ao Ginecologista

ginecologista

Eu estava agendada para uma consulta com meu ginecologista durante a semana. Numa manha, recebo a ligação do consultório dizendo que minha consulta foi mudada para esta mesma manha às 9h30.

Eu tinha acabado de despachar todos para a escola e trabalho, e já eram 8h45. O trajeto até o consultório me tomaria 35 minutos, logo não tinha muito tempo a perder. Assim como a maioria das mulheres fazem, gosto de dar uma caprichada na higiene quando vou a estas consultas, mas dessa vez, não ia dar tempo de fazer este esforço!

Então, corri escadas acima, arranquei o meu pijama, molhei a toalhinha que estava na beira da banheira, e me dei um banho de gato naquela “área” para assegurar que eu estava ao menos apresentável. Joguei a toalhinha no cesto de roupas sujas, vesti alguma roupa, saltei pra dentro do carro e corri para a consulta.

Eu estava sentada há apenas alguns minutos na sala de espera quando fui chamada. Já sabendo dos procedimentos, assim como todas também sabem, pulei pra cima da mesa de exames, e comecei a olhar para o outro lado, fingindo estar em Paris ou qualquer outro lugar a milhas de distância.

Fiquei um pouco surpresa quando o médico disse: “Puxa! Alguém fez um esforço extra esta manhã, não?”. Nem respondi.
Depois da consulta, já relaxada, voltei para casa. O restante do dia seguiu normalmente.. algumas compras, faxina, cozinhar. Depois da escola, quando minha filha de 6 anos estava brincando, ela me chama do banheiro: “Mamãe, onde está a minha toalhinha?”.

Disse a ela para pegar outra no armário.

E ela responde: “Não! Preciso daquela que estava na beirada da banheira! Foi lá que guardei a minha purpurina e as minhas estrelinhas!”


Anel de falange folheado a ouro c/ strass em forma de olho


domingo, 16 de fevereiro de 2014

Pra eu me apaixonar por você…

Rosas (5) Sabe, não sou o tipo de mulher que se apaixona por um rosto lindo e um corpo sarado. Também não me importa se você usa roupa de grife, tem um carro do ano e só bebe destilado importado. Não quero saber se você frequenta as casas noturnas mais badaladas da cidade, e que gosta de mostrar o quão influente é a sua presença nesses lugares.

Eu não sou o tipo de mulher que vai se apaixonar, só porque você me chamou de linda. Muito menos ficarei puxando o seu saco quando você começar a contar vantagem pra cima de mim. Aliás, é provável que eu te ache um babaca se você fizer isso.

Eu não quero saber quanto tempo você passou na academia. Nem sobre aquela noitada com os amigos onde todas as mulheres babavam em você. Aliás, se tem um monte de mulher correndo atrás de você, querendo que você saia desfilando com elas do lado, no melhor traje, maior salto e uma make arrasadora, parecendo um pinheirinho de natal de tanto penduricalho, fique sabendo, que eu não sou dessas mulheres.

Talvez seja por isso que até seja difícil eu me apaixonar. Não me encanto por tamanhas futilidades. Às vezes eu me encanto por alguém. Acontece quando você é desses caras que tá de bem com a vida e consigo, mas não precisa esfregar na cara de tudo e de todos isso. Eu me apaixono quando eu vejo que você cuida de mim, sem invadir meu espaço. Se preocupa comigo, mas não me faz sentir uma incapaz. Eu gosto quando você é gentil, pega na minha mão, me olha nos olhos, me abraça.

corações (6) Se você for inteligente, eu me apaixono. Mas não precisa querer me mostrar o quanto você é inteligente o tempo todo. Eu vou perceber isso quando conversarmos. Aliás, eu me apaixono se você gostar de conversar, e gostar de ouvir.

Olha, vou contar que eu tenho uma queda grande se você tiver um desses talentos bonitinhos, do tipo saber cozinhar ou tocar violão. E gostar de ficar fazendo companhia, durante horas, fazendo um carinho bom… E eu não vou me importar se seu perfume é de marca ou não.. eu gosto de sentir o cheiro da sua pele mesmo… Se eu gostar do cheiro da sua pele, se nossa pele combinar, te garanto, eu serei capaz de me arrepiar inteira apenas com o nosso toque.

Eu vou gostar se você me surpreender. Mas nada exagerado. Não quero que você demonstre em público com declarações cheias de potenciais micos. Me surpreende trazendo a minha cerveja preferida, ou me leva pra jantar naquele restaurante que eu adoro.

Eu não quero saber se você vai me dar presentes caros, ou pagar sozinho a conta. Aliás, entendo o pagar a conta como uma gentileza. Não sou dessas neuróticas que quer mostrar que sou independente de qualquer homem e que entende isso como uma ofensa. Mas isso não vai me fazer ficar apaixonada por você. E se você quiser dividir, eu também não vejo problema nenhum. Agora, se você se importa com outras coisas, se demonstra que tem interesse em mim, de saber quem eu sou ou da onde vim, e quer dividir essas coisas comigo também, olha, eu posso gostar de você.

Se o nosso papo flui, se a gente conversa, e gosta da companhia um do outro… se o beijo encaixa, se na cama encaixa, se no gosto encaixa… Se você me admira, e não me vê nem acima, nem abaixo de você, se você valoriza minhas qualidades que vão além de um rosto bonitinho ou de um par de peitos e uma bunda, olha moço, eu tenho grandes possibilidades de me apaixonar por você… Se você me olha nos olhos, me abraça apertado, me faz rir e quer dividir sua intimidade comigo, você me encanta… Se você me pega pra dançar, me beija na testa… Se me puxa de repente e me arranca um beijo… Mostra respeito mas não esquece do tesão, olha, você tá no caminho certo.

casal agarrado (6)No jeito que você me olha eu sou capaz de perceber se me acha linda, se me acha gostosa. Então me olha, me admira. Repara em cada pedacinho de mim.

E cuida. Dá atenção. Me faz rir. Me arranca gargalhadas. Eu adoro quem faz isso. Não concorda com tudo que eu digo, me contesta. Mostra que você pensa sob outro ponto de vista também. Me mostra que a vida é mais que isso que eu penso. Me ajuda a enxergar coisas novas, vou fazer isso com você também. Me manda uma mensagem no meio do dia dizendo que pensou em mim porque viu algo que eu gosto muito ou porque sentiu saudades. Diz pra eu ficar bem quando nos despedirmos. Me abraça. Diz que não vê a hora de me ver de novo.

Saiba, que o que vai me fazer apaixonar por você, não é o que você tem, não é o seu corpo, não são suas “conquistas invejáveis”. O que vai me fazer ficar apaixonada é quem você é, é o que você pensa, e como você me trata. É como estamos em sintonia e como me sinto bem simplesmente por estar ao seu lado.

Fonte:http://ninhodemafagafas.com/2014/02/13/pra-eu-me-apaixonar-por-voce/

 


Anel de falange folheado a prata c/ chinelinho resinado (cores sortidas)


domingo, 9 de fevereiro de 2014

Entrevista com o clitóris: “Guardo ainda muitos segredos”

Falamos com o único órgão humano dedicado única e exclusivamente a dar prazer, e que é exclusivo do gênero feminino

(artigo publicado originalmente no El País em 04/02/2014)

clitoris

Apesar de ter um nome universal, o mesmo em quase todas as línguas, esta parte da anatomia feminina tem sido a grande desconhecida; e é até mesmo perseguida culturalmente. Por estar parcialmente escondido, o seu protagonismo tem sido menor que o de seu homônimo masculino, o pênis. Contudo, o clitóris parece disposto a fazer-se ouvir e a conquistar o seu trono. A indústria dos brinquedos eróticos começa a considerá-lo e, recentemente, a ciência permitiu que o visualizássemos em toda a sua extensão e em 3D. Agora que o universo catódico nos deu uma lição de história sobre a importância do orgasmo clitoridiano (graças a Virginia Johnson e Bill Masters em Masters of Sex), conversamos com o clitóris para averiguar um pouco mais sobre este grande desconhecido.

Você é o único órgão humano encarregado única e exclusivamente de dar prazer e, no entanto, não tem sido reconhecido como merece. Isto é mais uma prova da tendência masoquista do ser humano?
O pênis tem muitos monumentos, uma corrente artística, quase um gênero — o fálico. A mim, foram feitas poucas estátuas, e deveria ser exatamente o contrário. O meu trabalho é totalmente altruísta e desinteressado. E, apesar disso, sou também o único órgão que deve pedir asilo político. Em alguns países cortam-nos a cabeça, e isto as próprias mães fazem com as filhas. Imagine-se um lugar onde fossem cerceadas as orelhas às crianças ao chegarem à puberdade! Seria uma loucura, mas com a gente continua acontecendo.

Imagino-o ressentido com a vagina, que lhe tirou ao longo da história todo o protagonismo…
O que se pode esperar de uma sociedade tradicionalmente machista e puritana?! A penetração vaginal tem uma função reprodutora, e a ordem durante séculos foi “crescei e multiplicai-vos”. Eu, ao contrário, não trago filhos ao mundo. Muita gente ainda identifica o órgão sexual masculino com o pênis, e o feminino com a vagina. Mas não, senhor. Sou eu. A vagina é muito menos sensível. Quando ainda ouço a diferença entre orgasmo vaginal e clitoridiano, começo a rir. Todos os orgasmos passam por mim. Os da vagina não são senão uma estimulação indireta da minha pessoa. Poder-se-ia dizer que sou como um iceberg, mostro apenas uma parte muito pequena de mim, a outra se ramifica por toda a pélvis.

E o que me diz do famoso ponto G?
Sim, vá lá, montou-se um marketing com esse halo de mistério que o rodeia e que flutua entre a realidade e a lenda. Mas a cada dia nascem mais pontos, o A, o U. Todo um alfabeto. De minha parte, vejo o ponto G como um plano B. Não é senão uma estimulação indireta de mim. A ciência ainda tem muito a descobrir a respeito. Ultimamente, começa-se a falar do complexo uretra-clitóris-vagina, uma zona de estimulação erótica e sensorial muito potente que ainda está por descobrir.

Os orgasmos que algumas mulheres podem experimentar manipulando os seios também passam por você?
Sempre se falou de uma ligação entre o mamilo e o clitóris, um fiozinho que une esses dois pontos e que algumas mulheres conhecem tão bem. Especialistas da Universidade de Rutgers, nos EUA, criaram em 2011 um mapa cerebral do prazer sexual feminino. Através de escâneres, os pesquisadores puderam identificar as áreas do cérebro implicadas na excitação dos genitais femininos. Os resultados, publicados no Journal of Sexual Medicine, revelaram que a estimulação do clitóris não é a única que ativa o córtex sensorial, como se pensava, mas que estimular a vagina, o colo do útero ou os mamilos também desencadeia respostas cerebrais. O biólogo Barry Komisaruk, principal autor do estudo, explicava ao diário argentino Perfil: “O inesperado foi que a autoestimulação do mamilo ativa as mesmas áreas cerebrais que a região genital anima”. O que explica que algumas mulheres possam chegar ao orgasmo somente com a masturbação dos seios.

A ciência não esteve muito interessada em você ao longo da história; de fato, sua anatomia completa foi vista pela primeira vez em 1998, graças aos estudos de imagem por ressonância magnética realizados pela uróloga australiana Helen O’Connell.
E faz somente quatro anos que os pesquisadores franceses Dr. Odile Buisson e Dr. Pierre Foldès criaram a primeira ultrassonografia completa em 3D do clitóris estimulado. Eu digo que nunca houve lá muito interesse em mim. Freud afirmou que eu era um pênis inacabado, e que a mulher que experimentava prazer apenas comigo não havia madurado o bastante. Só em minha parte externa possuo umas 8.000 terminações nervosas, o dobro que as do pênis, e estas se comunicam com mais outras 15.000 na região pélvica.

Entretanto, os estudos de Masters e Johnson deram-no a conhecer ao grande público, e até contribuíram para desenvolver um novo tipo de feminismo.
Sim, eles descobriram uma sexualidade feminina independente do coito com os homens. Os achados científicos sobre mim demonstravam que se podia prescindir do homem. “Com frequência a mulher não fica satisfeita com uma única experiência orgástica”, disseram Master e Johnson em seu livro A resposta sexual humana. As feministas mais radicais ficaram bem contentes com esses descobrimentos porque demonstravam a superioridade sexual da mulher, a qual, além de tudo, era multiorgástica. Enquanto isso, os conservadores viam o orgasmo clitorídeo como uma ameaça à heterossexualidade. Sem ir tão longe, nem ser tão apocalíptico, a verdade é que, graças a esses descobrimentos, muitas mulheres reformularam suas relações sexuais e começaram a tomar as rédeas de sua vida erótica. Posso presumir a minha contribuição ao feminismo.

Diz-se que você que aguenta melhor o passar do tempo que o pênis.
Muitas mulheres experimentam a sua plenitude sexual na maturidade, aos 40 e tantos, mas não é de todo certo que eu aguente o tempo tão bem. O meu mecanismo é muito similar ao do órgão masculino. Tenho ereções e ejaculo — às vezes da maneira masculina — e, como o pênis, sou um corpo cavernoso, e afetam-me a hipertensão e a diabetes. Os anos não me favorecem; o que ocorre é que muitas mulheres me descobrem tarde, e só então começam a me disfrutar, a viciar-se em sexo e a tentar recuperar o tempo perdido.

E o que me diz da sua fama de lento, de necessitar de mais tempo, de que se doure mais a pílula para começar a se pôr a trabalhar?
O que demora mais: fazer um frango empanado villeroy ou colocar uma pizza pré-cozida no forno? As coisas boas se fazem esperar, e o que chega rápido se vai ainda mais depressa. De todo modo, isso também é um mito. Um estudo realizado pela Universidade McGill, de Quebec, no Canadá, dirigido pelo Dr. Irv Binik, demonstrou que não existe diferença na quantidade de tempo que ambos os sexos requerem para alcançar o seu máximo nível de excitação. Binik e a sua equipe valeram-se da termografia, medindo a radiação, em termos de temperatura, que emitiam os genitais dos sujeitos da pesquisa enquanto contemplavam diferentes imagens, pornográficas ou não. Tanto os homens quanto as mulheres começavam a sentir excitação nos primeiros 30 segundos. Isso demonstra que, se estimulada adequadamente, a mulher pode chegar ao orgasmo tão rápido quanto o homem, mas, realmente, interessa correr tanto?

O problema parece ser que você é bastante esquisitinho, e encontrar o que lhe apetece não é tão fácil.
O que tem havido é muita incultura e desconhecimento. Se até muitas mulheres não estão muito familiarizadas comigo, que vamos pedir aos homens? Há aqueles que me ignoram totalmente e se dedicam a fazer espeleologia vaginal. Há os que, tão logo me veem, arremetem contra mim sem piedade e de forma bruta, isto me assusta e me retraio, pois sou bastante tímido. Abundam os que se creem especialistas com a boca e, em vez de lamber-me com cuidado, parece que estão fazendo a minha ablação. E depois estão aqueles que sabem me satisfazer, ainda que não se possa dizer que sejam uma legião. Peço apenas um pouco de tato e delicadeza, mas aí novamente criaram de mim uma fama que não mereço, a de não-me-toques. Como se o pênis também não tivesse os seus rompantes e os seus fracassos.

Como se deve tratá-lo então, para que se sinta à vontade?
Como merece uma parte da anatomia tão delicada e sensível. Para estimular a mulher, há que se começar a tatear as zonas erógenas secundárias, para em seguida ir às primárias. Uma vez na zona genital, eu devo ser o último a tocar. Deve-se iniciar pelo monte púbico, lábios maiores, menores, o espaço entre eles, para depois começar a tocar-me, primeiro indiretamente e, após, já diretamente. Às vezes será preciso retirar um pouco o capuz que me cobre. Gosto das lambidas e das sucções, mais lentas ou rápidas, e intercalando o ritmo. Cada mulher tem as suas preferências. Algumas vezes, abordar-me pela retaguarda é mais prazeroso que de frente. E uma ducha, bem dirigida, pode ser muito estimulante.

Tenho entendido que você gosta muito dos brinquedos, e que as vibrações o estimulam.
Sim, são como borbulhas de champanhe, e é preciso dizer que ultimamente quem mais se importa comigo é a indústria dos brinquedos eróticos. Quase todos os vibradores têm agora seus estimuladores do clitóris, cada vez mais anatômicos e sofisticados. Isto para não falar daqueles desenhados especialmente para nós. Meu empresário está buscando um patrocinador para mim e, por enquanto, não me foi permitido fazer publicidade, mas há verdadeiras maravilhas no mercado. Toda mulher deveria ter um pequeno kit de sobrevivência para as épocas de vacas magras e descobrir que, quando a colheita é ruim, também é possível ser autosuficiente.

No seu caso, o tamanho também importa?
Não para o meu perfeito funcionamento. E mais, se sou muito grande, acabo por complexar a minha dona, que vê a coisa pouco estética. O homem que tem um pênis grande, ao contrário, é muito orgulhoso dele. Ainda existem esses dois pesos, duas medidas.

O que me diz dos púbis depilados, é a favor ou contra?
Entre nós mesmos há diversos setores. Alguns preferem não estar rodeados de pelo, porque argumentam que assim são melhor localizados e que têm maior sensibilidade; mas também existem os da linha pró Mato Grosso, que defendem a naturalidade e o papel protetor da penugem dos genitais, que atua como barreira para evitar a entrada de vírus e infecções. Ter o púbis como o de uma atriz pornô exige a eliminação constante do pelo, causando a inflamação dos folículos pilosos e deixando feridas abertas microscópicas. Isto, combinado com o calor e o ambiente úmidos dos genitais, cria um caldo de cultura para as bactérias patogênicas. É uma questão de moda e, conforme li recentemente, já existem algumas defensoras do felpudo. Não me estranharia nada que voltasse a tendência dos genitais peludos. Muitas que fizeram a depilação a laser precisarão, nesse caso, recorrer aos postiços.

— Rita Abundacia

[tradução: Silvio Diogo]

[imagem: Laura Pacheco]


Pulseira folheada a ouro c/ borboletas coloridas


segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Um lugar ao sol para a Vitamina D

Ela é fundamental tanto para a mulher grávida quanto para um atleta campeão olímpico. Sua escassez provoca imensos problemas de saúde, mas tê-la em excesso também. Serve ao bebé recém-nascido e ao idoso. É fundamental para o obeso e para o magro. Poucas substâncias servem tão completamente ao organismo quanto a vitamina D.

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A temporada dos corpos à mostra, com o verão e as férias, é o momento mais adequado para a compreensão do funcionamento da chamada vitamina do sol. Pode até chover hoje e amanhã, mas, dos 89 dias do verão brasileiro, 85 serão ensolarados em Natal, 81 em João Pessoa, 66 no Rio de Janeiro; 65, em Porto Alegre; 60, no Recife; 46, em Brasília; e 45, em São Paulo.

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Até 10 anos atrás, a vitamina D estava associada, sobretudo. à manutenção de um esqueleto forte. As descobertas mais recentes da medicina, no entanto, indi­cam que praticamente todos os tecidos e órgãos se beneficiam dela. "Direta ou indiretamente, a D está relacionada a pelo menos 2.000 genes, o que compro­va a sua vasta gama de benefícios ", dis­se a VEJA o endocrinologista america­no Michael Holick, professor da Universidade de Boston, grande pesqui­sador do assunto e autor do livro "Vita­mina D — Como um Tratamento Tão Simples Pode Reverter Doenças Tão Importantes ".

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A vitamina D faz o nosso coração bater no ritmo adequado e nossas artérias e veias pulsarem em compasso. É ela que nos garante força muscular e nos protege contra infecções, infartos e derrames, diabetes e alguns tipos de câncer. A falta dela desregula o sistema de fome e saciedade e nos faz engordar, e de morrer de vergonha de vestir o biquíni e o calção na praia.

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Chamar a D de "vitamina" é um equívoco de origem histórica. Isolada em 1922, a substância foi denominada vitamina porque, acreditava-se, só poderia ser obtida por intermédio da alimentação, em especial do óleo de fígado de bacalhau. As vitaminas são compostos essenciais à saúde, mas não podem ser sintetizadas pelo nosso organismo. Ela foi batizada de D porque era a 4ª substância do tipo a ser descoberta – depois das vitaminas A, B e C. A partir da década de 70, os pesquisadores, entre eles, Michael Holick, observaram que o corpo humano, ao contrário do que se supunha, poderia, sim, produzir vitamina D. Ou seja, a vitamina D não é uma "vitamina", mas um hormônio.

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Existem basicamente 3 formas de estimular o organismo a fabricar vitamina D. Sem sombra de dúvida (com o perdão do trocadilho), o sol é a principal delas. Uma pessoa de pele morena-clara, olhos e cabelos castanhos, como a atriz Débora Nascimento, precisaria de 10 a 15 minutos nas areias cariocas, entre 11 horas da manhã e 1 hora da tarde, 3 vezes por semana, sem protetor solar, para sintetizar a substância.

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Ao incidir sobre a camada mais superficial da pele, a epiderme, a radiação solar deflagra uma cascata de reações químicas que resulta na síntese da vitamina, em sua forma ativa, pelos rins. Dessa forma, a meia-vida da substância no corpo humano é de 4 a 6 semanas – o dobro da duração da que pode ser obtida com a suplementação feita por intermédio da dieta ou de cápsulas. “Como a vitamina D é solúvel na gordura, ela é armazenada no tecido adiposo e liberada mesmo durante o inverno, permitindo níveis suficientes da vitamina durante o ano todo ”, explica Michael Holick. O sol ideal para a substância é o mais abominado pelos dermatologistas – do meio-dia às 2 horas da tarde, sem proteção. Nesse período, predomina a incidência dos raios ultravioleta B (UVB), aqueles que, em excesso, nos deixam vermelhos como pimentão, e são o principal fator de risco para o câncer de pele.

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Dá-se, aí, um dilema monumental, um dos mais fascinantes da medicina atual. A partir da década de 80, começaram a surgir as primeiras associações entre os banhos de sol sem proteção e o aumento no risco de câncer de pele. Desde então, os dermatologistas preconizam que não se saia de casa sem besuntar o corpo (o rosto, principalmente) com filtro solar. O que fazer então diante das evidências de que, para a fabricação de uma substância tão crucial, como a vitamina D, é preciso, ainda que por pouco tempo, tomar sol sem protetor? Os médicos ainda não chegaram a um consenso, mas há pistas. “Não existem pesquisas sobre os perigos em longo prazo das curtas exposições ao sol para o câncer de pele ”, diz Adilson Costa, chefe do serviço de dermatologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas.

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Mas muitos dermatologistas preferem não arriscar e recomendam a seus pacientes o uso de suplementos à base de vitamina D, ou o prolongamento da exposição sem protetor nos períodos de sol mais fraco, como o início da manhã e o fim da tarde. Outros especialistas, no entanto, são menos conservadores. “Poucos minutos de sol intenso, seguidos de proteção solar adequada, não são suficientes para causar câncer de pele em longo prazo ”, afirma Omar Lupi, vice-presidente do Colégio Ibero-Latino-Americano de Dermatologia.

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Entretanto, todos são unânimes em afirmar que pessoas vítimas de câncer de pele ou com histórico familiar deste problema não devem se expor ao sol sem tomar os devidos cuidados. Dos tipos de câncer de pele, o sol está associado ao mais comum deles, com 25% dos 518.000 casos da doença no Brasil. Não se trata da versão mais letal dos tumores de pele, o melanoma. A radiação solar nada tem a ver com esse tipo de câncer. Ao que tudo indica, aliás, conforme os mais avançados estudos sobre o assunto, o sol pode até ser fator de proteção contra o melanoma.

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O protetor solar dos sonhos seria aquele que fosse capaz de nos proteger do sol e, ao mesmo tempo, permitir a produção pelo organismo da vitamina D. Mas t por enquanto, parece impossível aos especialistas. Afinal, o mesmo Raio UVB, que causa o câncer, é o que deflagra a síntese da vitamina. Então, como separar uma ação da outra? Os estudos mais avançados em termos de proteção solar investigam a fabricação de produtos compostos de nanopartículas, os filtros inteligentes. Ao penetrarem nas camadas mais profundas da pele, eles teriam ação prolongada e dispensariam a necessidade de reaplicar o protetor a cada 2 horas, e sempre depois do banho de mar ou da piscina.

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Apesar da fartura de sol no Brasil, a escassez de vitamina D na população é preocupante. “Cerca de 50% dos brasileiros com menos de 50 anos apresentam deficiência de vitamina D ", diz Marise Lazaretti, chefe do Grupo de Doenças Osteometabólicas da Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo. E entre os idosos, o contingente chega a 80%. Este é, em grande parte, o resultado de anos de medo da exposição solar. Também é necessário levar em conta que a vida urbana nos afasta do convívio com o sol. Vivemos trancados nos escritórios. presos no trânsito. As crianças ficam muito tempo diante da televisão e do computador. Nessas condições, em casos de deficiência, é necessário recorrer à suplementação com cápsulas de vitamina D. Não é possível garantir essas doses extras por meio da dieta. São poucas as fontes ricas em vitamina D, capazes de assegurar uma alimentação diária equilibrada. Para alcançar níveis suficientes, por exemplo, seriam necessário consumir diariamente 3 latas de sardinha, 2 postas generosas de salmão ou de 50 a 100 gemas de ovo!!! 

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2 tipos de vitamina D: o ergocalciferol (ou vitamina D2), de origem vegetal, e o colecal-ciferol (ou vitamina D3), encontrado nos animais, e que também é produzido pelos seres humanos. Os suplementos podem ser feitos a partir de qualquer uma destas fontes e são igualmente eficazes. No Canadá, onde em algumas regiões o inverno chega a durar 7 meses, por determinação do governo a indústria alimentícia produz leites e margarinas enriquecidos com vitamina D. Produtos desse tipo são comuns também nos EUA e na Europa. Mas no Brasil, aparecem timidamente nas gôndolas.

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Os médicos começaram a se preocupar com a falta de vitamina D no início da Revolução Industrial, em meados do século XVIII. À medida que as famílias trocavam o trabalho no campo pelas fábricas, afastavam-se da energia solar e começavam a ter mais problemas de saúde. Datam desse período os primeiros relatos médicos de raquitismo, problema ósseo decorrente da deficiência da vitamina, comum em crianças. A doença não só retardava o crescimento como deixava suas vítimas mais suscetíveis a infecções, como a tuberculose. O raquitismo atingiu proporções epidêmicas na Europa, e em alguns estados americanos do norte. De cada 100 crianças que moravam em regiões industrializadas, 80 sofriam da doença. No início do século XX o banho de sol era prescrito pelos pediatras tal qual um remédio. Quase 2 séculos depois, a medicina volta a eleger a vitamina D como um dos mais potentes aliados da boa saúde. Uma das frentes mais interessantes das pesquisas é aquela que investiga o papel da substância na prevenção de vários tipos de câncer – mama, intestino, próstata e ovário, entre outros. A vitamina D funciona como uma espécie de sentinela da multiplicação celular. No caso de proliferação exagerada das células, ela induziria à apoptose – um mecanismo de defesa no qual células potencialmente malignas “cometem suicídio”. Graças a esse poder da vitamina D, especialistas sugerem que os "banhos de sol controlados" poderiam prevenir, só nos Estados Unidos, 185.000 novos casos de câncer todos os anos.

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Cuidados diferentes para cada tipo de pele

O tempo de exposição solar necessária para a síntese de vitamina D pelo organismo é determinado a partir do cruzamento de uma série de situações: a estação do ano, o tipo de pele, a localização geográfica e o horário do dia. Com base nas escalas desenvolvidas pelo pesquisador americano Michael Holick, a revista VEJA desenvolveu um sistema para determinar a atenção que cada pessoa deve ter ao se expor ao sol durante o verão, conforme a região em que ela se encontra, abaixo ou acima do Trópico de Capricórnio. No primeiro grupo, estão o sul e a região metropolitana de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e o extremo sul de Mato Grosso do Sul. No segundo, estão todas as outras regiões do Brasil.

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Cuidados precoces

Durante as férias, o tempo que a garotada fica sob o sol costuma aumentar. Mas atenção que seja na praia, na piscina ou no clube, os pequenos não podem ficar expostos sem proteção. “As crianças possuem uma pele mais fina que a dos adultos, e seu sistema produtor de melanina não está completamente amadurecido ”, diz o dermatologista Adilson Costa, da PUC de Campinas. Pigmento natural da pele, a melanina funciona como uma espécie de filtro solar. Por conta dos componentes químicos dos protetores, as crianças só podem usar esse tipo de produto a partir dos 2 anos. Antes dessa idade, a proteção ideal se faz com guarda-sol, roupa e chapéu.

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O sol mais seguro é o de antes das 10 horas e depois das 16 horas. E como fica a vitamina D em meio a tanta proteção? Quase 10% das crianças e dos jovens de até 21 anos nos EUA possuem deficiência da substância. Um estudo recente mostrou que as crianças com doenças graves são, em sua maioria, as que têm os maiores déficits de vitamina D. “É correto o pediatra solicitar que a criança seja submetida a exames de dosagem de vitamina D no sangue”, diz Kerstín Taniguchi Abagge, presidente do departamento científico de dermatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria. Em caso de escassez, é preciso recorrer à suplementação.

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8 PERGUNTAS ESSENCIAIS

01.  É possível obter as quantidades mínimas necessárias de vitamina D somente peia alimentação?

Não. A variedade de alimentos ricos em vitamina D é muito pequena, e fica impossível manter uma alimentação equilibrada (e portanto saudável) a partir de uma dieta baseada em salmão, gema de ovo ou shiitake. “O brasileiro consome cerca de 1/10 da vitamina D recomendada ”, diz a endocrinologista Marise Lazaretti. Além disso, o modo de preparo dos alimentos interfere na quantidade de vitamina D contida neles. Quando frito, o salmão perde até 50% do micronutriente se comparado a quando ele é assado, cozido ou grelhado.

02.  Há pelo menos 20 anos os médicos advertem que tomar sol sem proteção constitui fator de risco para o câncer de pele. Agora, defendem a ideia de que, para obtermos a vitamina D necessária para o bom funcionamento do organismo, devemos abrir mão do protetor. O que fazer, afinal?

O argumento de que o organismo só produz vitamina D mediante a exposição solar sem proteção não deve ser interpretado como um “liberou geral”. Estatelar-se sob o sol, sem nenhum cuidado, é proibidíssimo. Recomenda-se que no verão brasileiro a duração dos banhos de sol para a obtenção de vitamina D vá até 45 minutos, no máximo, conforme o tipo de pele, a latitude e o horário. Alguns dermatologistas argumentam que, apesar de não existirem estudos sobre o assunto, os banhos de sol desprotegidos, ainda que rápidos, podem, sim, deflagrar o câncer de pele. Todos são unânimes, no entanto, ao condenar categoricamente a prática por pessoas com histórico de câncer de pele na família ou que já tenham sido vítima da doença.

03.  Qual é o melhor sol para a síntese de vitamina D?

É aquele que os dermatologistas mais temem – o sol de verão, entre o meio-dia e as 2 da tarde, sem proteção. Durante a manhã e no final da tarde, o percurso dos raios solares através da atmosfera é oblíquo, de modo que a intensidade da radiação é menor. Além disso, os raios são mais fortes na linha do Equador, dada a perpendicularidade do Sol em relação à Terra. Dependendo do fator de proteção do filtro solar, os protetores disponíveis hoje no mercado podem reduzir em até 99% a fabricação de vitamina D.

04.  Por que o tempo de exposição ao sol varia também conforme o tipo de pele?

Quanto mais escura for a pele, mais difícil será a produção de vitamina D pelo organismo. Essa dificuldade se explica pela presença em maiores quantidades de melanina, o pigmento natural da pele, que funciona como uma espécie de filtro contra a radiação solar. Os negros, por exemplo, precisam ficar 10 vezes mais tempo expostos ao sol sem proteção para que produzam o mesmo volume de vitamina D do que as pessoas de pele clara.

05.  É preciso expor todo o corpo ao sol para a produção adequada de vitamina D?

Não. Basta expor os braços e as pernas ao sol, 3 vezes por semana. Isso corresponde a deixar aproximadamente 25% da área total do corpo sob a radiação solar. Quando se está de biquíni ou calção, a porção do corpo descoberta chega a 75%, o que diminui consideravelmente a necessidade de exposição ao sol sem proteção. A radiação diretamente sobre o rosto sem filtro está terminantemente proibida. Do ponto de vista da fabricação de vitamina D, não faz diferença, já que o rosto não chega a 10% da área total do corpo.

06.  O sol que tomamos enquanto estamos no trânsito é suficiente para a síntese de vitamina D?

Os raios ultravioleta do tipo B (UVB), aqueles capazes de ativar a síntese de vitamina D, não conseguem atravessar o vidro. Nos dias nublados, há uma redução de até 50% na fabricação de vitamina D. A poluição também é outro obstáculo. Um estudo feito na Índia revelou que nas cidades com ar mais poluído, as pessoas produzem 54% a menos de vitamina D do que nas cidades limpas.

07.  Os idosos produzem vitamina D na mesma intensidade que os mais jovens?

Não. Com o avançar da idade, o organismo funciona num ritmo mais lento. A quantidade de vitamina D produzida por uma pessoa de 70 anos é, em média, 1/4 da que é sintetizada por um jovem de 20 anos. “Por isso, a indicação de suplementação aumenta conforme a idade ”, diz Sérgio Schalka, dermatologista da Universidade de São Paulo (USP).

08.  É possível substituir o sol pela suplementação de vitamina D?

Sim. A suplementação é muito comum em regiões do Hemisfério Norte onde o sol é escasso. Nesses locais, durante o inverno, a síntese de vitamina D pode ser completamente interrompida.

vitamina d17

Onde encontrar a Vitamina D:

A sua quantidade é medida em unidades internacionais (UI). 1 UI eqüivale a 0,00025 miligramas

Sol – 3 a 5 minutos – 7.000 UI

Óleo de fígado de bacalhau – 1 colher de sopa – 1.360 UI

Cogumelo Shiitake – 50 gramas – 800 UI

Salmão – 1 filé 100 gramas – 794 UI

Atum – 1 posta 100 gramas – 154 UI

Ovo (gema) – 1 unidade – 26 UI

Fonte: Revista Veja

 


Pulseira folheada a prata c/ adorno em filigrana e strass (cores sortidas)


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