A TV que assiste VC

Estão aí duas coisas que eu não gosto e que eu vi juntas na internet essa semana: Big Brother Brasil e protesto contra o Big Brother Brasil.

Nesta semana duas feministas realizaram um protesto, mostrando os peitos e gritando palavras de ordem, contra a Casa de Vidro. Um ambiente criado no shopping Parque Santana, em São Paulo, para classificar os últimos dois participantes da 13ª edição do reality show.

Segundo as feministas o protesto teria o objetivo de "despertar a reflexão das pessoas" e o motivo de fazerem topless no protesto é causar choque.

Muita coisa pode ser tirada desse fato.

Primeiro que mostrar os peitos não causa mais choque nenhum, ainda mais aqueles peitos que estavam nas fotos que circularam por aí. Isso é mais uma invencionice de gringo e que brasileiro alienado adora copiar. Não era de certa forma um protesto contra a alienação?

Segundo, criou-se uma onda de pseudo-intelectuais, que adoram criticar quem assiste esse programa. Pera aí! É um programa de TV e só isso e nada mais. Um programa de entretenimento que não objetiva deixar ninguém mais culto. Simplesmente um lixo de programa, que brinca com a nossa inteligência como todos outros tipos de programas lixo que temos em nossas TVs abertas. Se for assim já economizem sutiãs e saiam de casa peladas. Será que o problema é a programação ou são as pessoas programadas? 

Quem domina quem?

Sentar com a família para almoçar ou jantar – que é um dos poucos momentos em que todos podem estar juntos e conversar – e ter na frente da mesa a TV. “Mas tudo bem nem queria falar com meu pai mesmo”. Receber uma visita e enquanto as pessoas tentam conversar lá está a TV ou cortando o assunto ou ajudando a ter o que conversar. “Será que essas pessoas não vão embora? Daqui a pouco vai começar a novela”. Ir para cama com seu parceiro ou parceira, mas lá está ela, ligada, observando vocês. Um dorme primeiro e o outro pensa “ainda bem que dormiu, não estava nem um pouco afim de fazer sexo”.

E de repente desligamos a TV. Um silêncio profundo e constrangedor pode vir e tomar conta da sala, da mesa de jantar e do quarto. Somos obrigados a conversar e nos deparamos sem assunto.

Outras vezes acaba a energia e todos saem para fora e encontram os vizinhos para falar sobre o tempo ou outras coisas cotidianas. No escuro da casa, descobrem coisas para falar e para rir como há muito tempo não faziam.

Ela está sempre lá. Em todos os lugares. Às vezes paramos e assistimos algo bacana. Damos risadas, choramos, ficamos assustados, angustiados, sorrimos e até dormimos. Este é você assistindo a TV.

É noite, o sono não vem e você corre todos os canais com o controle na mão. É madrugada e só tem filmes de assombração. Essa é a TV assistindo um programa em que o zumbi é você.

É férias, o dia lá fora está perfeito para sair e você sentado no sofá assistindo sei lá o que. Esta é a TV assistindo você. Perdendo mais um dia sem nem mesmo saber o porquê.

Este novo membro da família está em todas as casas, como um grande irmão, assistindo a sua vida. Horas e horas sobre a estante, vendo seu filho crescer e você envelhecer. Olhos atentos, bocas em silêncio. 

Acharam que eu iria criticar Big Brother Brasil? Eu não preciso disso. Já tenho a internet onde as pessoas por conta própria se expõem voluntariamente, expõem a sua vida amorosa, expõem as suas tristezas, expõem suas alegrias e às vezes (muitas vezes!) se expõem até o ridículo.

Eu não preciso de Big Brother Brasil, eu uso Facebook.

Ou será que é ele que me usa?

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Desconheço a autoria