"Quando os nazistas levaram os comunistas,
eu calei-me,
porque, afinal,
eu não era comunista.
Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me,
porque, afinal,
eu não era social-democrata.
Quando eles levaram os sindicalistas,
eu não protestei,
porque, afinal,
eu não era sindicalista.
Quando levaram os judeus,
eu não protestei,
porque, afinal,
eu não era judeu.
Quando eles me levaram,
não havia mais quem protestasse"
(Martin Niemöller – pastor luterano alemão – 1945 - 1954 - data presumida)
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
Bertolt Brecht, (10.02.1898 - 04.08.1956) - Teatrólogo e poeta alemão
NO CAMINHO COM MAIAKÓVSKI
Assim como a criança humildemente
afaga a imagem do herói,
assim me aproximo de ti,
Maiakóvski.
Não importa o que
me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.
Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na Segunda noite,
já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.
Olho ao redor e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança
dizer mãe
e a propaganda lhe destrói
a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem
que aguarde
até que a Democracia
se digne a aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar,
que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.
Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós
emana o poder
mas sempre
o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos
contra a opressão
é sobre nós
que marcham os soldados.
E por temor eu me calo,
por temor aceito
a condição de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência
de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!
Eduardo Alves da Costa (Escrito nos anos 60 pelo poeta fluminense Eduardo Alves da Costa)
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